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quinta-feira, 17 de maio de 2012

Teoria psicanalítica de Freud


Objeto de estudo para Freud: o inconsciente 
Assim como Piaget na perspetiva cognitiva, também Freud considera que a compreensão do comportamento exige uma análise dos fenómenos psíquicos. Contudo, se a perspetiva cognitiva encara as pessoas como processadoras racionais de informação, a perspetiva psicodinâmica procura evidenciar aspetos em que a racionalidade humana falha: enfatiza as motivações inconscientes e o papel desempenhado pelas vivências emocionais infantis na estruturação da personalidade do adulto.
Freud dizia que: “O consciente é apenas a ponta do iceberg”, ou seja aquilo que se vê e que podemos analisar, dado que manifestamos de forma voluntária. No entanto, não é a única instância da mente humana. Existe também o pré-inconsciente (na imagem do iceberg é representada superfície do oceano), e o inconsciente (porção maior do iceberg), que apesar de escondida e de não se manifestar voluntariamente, irá ser considerada a instância principal.
Com isto, Freud conclui que os processos psíquicos inconscientes (forças, desejos sexuais e agressivos, recalcamentos, etc), influenciavam em grande parte o nosso comportamento, personalidade e motivações. Esta descoberta faz do inconsciente a estrutura com mais influência que o consciente, e dá-se a Revolução Psicanalítica, ou seja, não só se descobre o inconsciente como se afirma que este domina a nossa vida psíquica.

As duas tópicas do psiquismo humano

1ª tópica(topográfica) - consciente, pré-consciente e inconsciente 
Na primeira tópica, o psiquismo humano é encarado por Freud como um icebergue, do qual apenas uma pequena parte emerge da superfície da água.
  • o consciente – correspondente à parte emersa, a zona da razão e do contacto com o mundo exterior. Nele estão os raciocínios, os pensamentos e as perceções que a pessoa é capaz de voluntariamente evocar e controlar segundo as suas necessidades ou desejos e conveniências do meio social. O consciente é a parte da mente humana a que é possível chegar através da introspeção, ou seja, através da observação do que se passa no interior da nossa mente, dos fenómenos psíquicos que acontecem na nossa consciência. Ao contrário do inconsciente, é possível controlar voluntariamente o consciente dependendo das necessidades e exigências do ser humano. Até então, o ser humano era definido como um ser racional que controlava as suas ações através da sua vontade. Para Freud, a existência apenas do consciente não explicava muitos dos comportamentos humanos, designadamente certas patologias, o que levou Freud a afirmar a existência do inconsciente.
  • o pré-consciente, foi concebido como articulado com o consciente, funcionando como uma espécie de peneira que seleciona aquilo que pode, ou não, passar para o consciente. Constitui uma zona intermédia entre o consciente e o inconsciente, o qual corresponde, no icebergue, a uma zona flutuante de passagem entre a parte visível e a oculta. Adicionalmente, o pré-consciente também funciona como um pequeno arquivo de registos, cabendo-lhe sediar a fundamental função de conter as representações de palavra.
  • o inconsciente, que designa a parte mais arcaica do aparelho psíquico. Esta parte submersa é a região obscura do psiquismo, é como um vasto contentor, onde estão depositados tendências e desejos, atividade pulsional de origem orgânica que impõe uma satisfação imediata, não obedecendo ao princípio da contradição nem à noção de tempo e que se rege, se regula apenas e só pelo princípio do prazer. Muitos dos instintos, pulsões e desejos são de natureza sexual e, logo, socialmente inaceitáveis. O conjunto de pulsões e desejos inconscientes, essencialmente os de natureza sexual, possuem um dinamismo próprio cujo papel na determinação do comportamento humano é superior aos dos fenómenos conscientes.O inconsciente tem uma dimensão e um poder que levou Freud a dizer que:" os processos psíquicos seriam em si mesmo inconscientes; e, quanto aos conscientes, não passam de atos isolados, de frações da vida psíquica total." Significa isto que a grande parte da nossa vida psíquica se realiza no inconsciente.O inconsciente não é a simples ausência de consciência, mas uma estrutura psíquica contendo uma dinâmica pulsional, desejos recalcados e sendo regulado na sua atividade pelo princípio do prazer. 

2ª tópica(estrutural) - ego, superego e id
A estrutura da personalidade concebida originalmente, em termos topográficos, como consciente, pré-consciente e inconsciente, foi substituída pelo conceito dinâmico do id, que representa as forças biológicas, instintivas da personalidade, ego, que representa o princípio da realidade, e o superego, que representa as forças repressivas da sociedade. O Id, Ego e o Superego são as estruturas essenciais da personalidade, estabelecendo entre si uma relação conflituosa à qual se deve o dinamismo da vida psíquica. Assim, na segunda tópica estamos perante uma visão mais completa e descritiva entre as instâncias psíquicas.
  • o ego - de acordo com a teoria psicanalítica, surge relativamente cedo - esta instância começa a desenvolver-se por volta dos seis meses -, à medida que a criança vai experienciando e se vai apercebendo de privações e recusas no mundo exterior. Ou seja, o ego nasce com o impacto entre o id e os factos reais, este modera a impulsividade do id, controla a ação e decide de que modo as necessidades e os desejos podem ser satisfeitos. Esta instância psíquica tem como zona fundamental o consciente, formando-se a partir do id. Rege-se pelo princípio da realidade, orientando-se por princípios lógicos, onde o princípio da realidade não exclui o princípio do prazer. É racional e tem a noção do que é possível fazer de acordo com as circunstâncias, sabendo ou aprendendo que nem tudo é possível, isto é, realismo. Por outras palavras, representa os aspetos racionais e razoáveis da nossa personalidade, ajudando-nos a adaptar a um mundo desafiante. 
  • o superego - atua como um "juiz" das nossas atividades e pensamentos. Constitui a moral do indivíduo e tem a sua origem na relação da criança com os pais, que lhe fazem exigências, interdições e ameaças que pesam sobre a criança. Assim, forma-se ou começa a desenvolver-se por volta dos 3/5anos, quando são assimiladas as regras de comportamento ensinadas pelos pais, através de um sistema de recompensas e castigos. Este controlo imposto a partir do exterior tende a ser interiorizado, pelo que por volta dos 7 anos, o superego é já uma instância interna que atua de modo automático e espontâneo. Mais concretamente, o superego é formado por princípios morais e representa um conjunto de valores nucleares como a honestidade, o sentido de dever e de responsabilidade, as obrigações, etc... Um superego demasiado repressivo (educação severa) é uma ameaça Representa a internalização de normas e regras sociais, culturais e familiares ao nosso desenvolvimento saudável. O superego inclui o ego ideal (a imagem perfeita do que somos e do que podemos ser) e a nossa consciência (as regras de bons e maus pensamentos e comportamento). Contudo, o superego não elimina a atuação do id, que se mantém ativo ao longo da vida. 
  • o id - campo de natureza primitiva e instintiva desenvolvido à nascença é uma zona primitiva, instintiva e inconsciente. O Id rege-se pelo princípio do prazer, que tem por objetivo a realização, a satisfação imediata de desejos e pulsões. Grande parte dos desejos neles contidos é de natureza sexual e agressiva. Este princípio procura satisfazer impulsos e instintos para obter prazer ou evitar a dor, estando desligado do real onde este não se orienta por normas ou princípios morais, sociais ou lógicos. A natureza do id é biológica e instintiva, desenvolvendo impulsos ligados à fome, à sede, à sexualidade, à agressão permitindo a sobrevivência individual e a continuidade da espécie. É totalmente inconsciente.

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