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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Modelo psicossocial de Erickson


Os estádios de desenvolvimento

Erik Erikson
Erickson salienta os aspetos culturais do processo evolutivo da personalidade. Este desenvolvimento evolui em oito estádios, sendo que cada estádio tem em conta aspetos biológicos, individuais e sociais.
Os primeiros quatro estádios decorrem no período de bebé e da infância, e os últimos três durante a idade adulta e a velhice. A formação da identidade inicia-se nos primeiros quatro estádios, e o sentido desta negociado na adolescência evolui e influencia os últimos três estádios.
Cada estádio contribui para a formação da personalidade total (princípio epigenético), sendo por isso todos importantes mesmo depois de se os atravessar. Como cada criança tem um ritmo cronológico específico, não se deve atribuir uma duração exata a cada estádio.
Em cada estádio existem duas alternativas: quando o estádio evolutivo é satisfatoriamente alcançado, o produto será uma personalidade saudável; quando não é atingido, o resultado será uma personalidade emocionalmente imatura ou desajustada.
Ou seja, a resolução positiva de uma crise leva o indivíduo a dominar mais eficientemente o ambiente que o rodeia, a funcionar de modo mais consistente e seguro e a ser capaz de se compreender melhor a si próprio e aos outros. Estas crises psicológicas permitem assim ao indivíduo a aquisição de sentimentos, como confiança em si próprio, autonomia, iniciativa ou, ao invés, falta de confiança, sentimentos de inferioridade e de culpabilidade.
Portanto, segundo Erikson a tarefa fundamental é a construção da identidade pessoal.


1º Estádio – Confiança vs Desconfiança - ocorre aproximadamente durante o primeiro ano de vida (0 - 18 meses).

Durante este período, o relacionamento com a mãe é da maior importância. A criança adquire ou não uma segurança e confiança em relação a si próprio e em relação ao mundo que a rodeia, através da relação que tem com a mãe.
-Se a mãe não lhe der amor e não responde às suas necessidades, a criança pode desenvolver medos, receios, sentimentos de desconfiança que poderão vir a reflectir-se nas relações futuras. Se a relação é de segurança, se a mãe alimenta bem o filho, se o aconchega e acarinha, brinca e fala ternamente com ele, se a criança recebe amor e as suas necessidades são satisfeitas, desenvolve o sentimento de que o ambiente é agradável e seguro, criando uma atitude básica de confiança e face ao mundo. Posteriormente, vai ter melhor capacidade de adaptação às situações futuras, às pessoas e aos papéis socialmente requeridos, ganhando assim confiança.


2º Estádio – Autonomia vs Vergonha e dúvida – ocorre aproximadamente entre os 18 meses e os 3 anos).

É caracterizado por uma contradição entre a vontade própria (os impulsos) e as normas e regras sociais que a criança tem que começar a integrar. É altura de explorar o mundo e o seu corpo. Nesta fase, as crianças sentem ainda necessidade de proteção, mas simultaneamente, gostam de experimentar. Por isso, sentem-se bem sempre que podem exercitar as suas capacidades motoras: correr, puxar, empurrar, segurar, largar são atividades que treinam e procuram desenvolver.
O meio deve estimular a criança a fazer as coisas de forma autónoma, não sendo alvo de extrema rigidez, que deixará a criança com sentimentos de vergonha.
Se os pais encorajarem a criança a exercitar estas habilidades, ela desenvolve o controlo dos seus músculos, o que contribui para o domínio do seu próprio corpo e do ambiente que a rodeia. Desta forma, a criança ganha autonomia.
No entanto, se a criança for impedida de usar as suas capacidades ou se lhe é exigido que use essas capacidades precocemente, a criança desenvolve sentimentos negativos, como a vergonha e a dúvida.
As virtudes básicas que resultam desta crise são a força de vontade e o autocontrolo.


3º Estádio – Iniciativa vs Culpa – ocorre aproximadamente entre os 3 e 6 anos.

É o prolongamento da fase anterior, mas de forma mais amadurecida: a criança já deve ter capacidade de distinguir entre o que pode fazer e o que não pode fazer.
O desejo de experimentar mantém-se e amplia-se com a aquisição de novas capacidades intelectuais, como o pensamento e a linguagem, que usa como outras formas de explorar a realidade. Com elas toma iniciativas, idealiza façanhas, realiza tarefas e exibe-se.
Este estádio marca a possibilidade de tomar iniciativas sem que se adquira o sentimento de culpa: a criança experimenta diferentes papéis nas brincadeiras em grupo, imita os adultos, tem consciência de ser “outro” que não “os outros”, de individualidade. Neste estádio, a criança tem uma preocupação com a aceitabilidade dos seus comportamentos, desenvolve capacidades motoras, de linguagem, pensamento, imaginação e curiosidade.
As virtudes básicas que resultam desta crise são a tenacidade, o propósito e a direção.


4º Estádio – Indústria vs Inferioridade - decorre na idade escolar, antes da adolescência (6 - 12 anos).

Erikson utiliza a palavra indústria no sentido de produtividade, de desenvolvimento, de competência. A partir de estudos antropológicos, conclui que, nesta fase, em várias culturas, se fazem importantes aprendizagens sociais.
A criança franqueia o universo da escola, onde se espera que faça grandes aprendizagens, a nível académico e social. Sonha com o sucesso, desenvolvendo esquemas cognitivos para se tornar excelente nas tarefas desempenhadas. Percebe-se então como pessoa trabalhadora, capaz de produzir, sente-se competente.
Neste estádio, a resolução positiva dos anteriores tem especial relevância: sem confiança, autonomia e iniciativa, a criança não poderá afirmar-se nem sentir-se capaz. O versus negativo é o sentimento de inferioridade e de inadequação que lhe advém de não se sentir segura nas suas capacidades ou de não se sentir reconhecida nem segura no seu papel no grupo social a que pertence.
As virtudes básicas que resultam desta crise são a competência/ capacidade e o método.


5º Estádio – Identidade vs Confusão de identidade - marca o período da adolescência (12 - 18/ 20 anos).

É neste estádio que se adquire uma identidade psicossocial: o adolescente precisa de entender o seu papel no mundo e tem consciência da sua singularidade. Nesta idade, o adolescente apercebe-se da sua singularidade como pessoa, adquirindo a noção de que é um ser único, com identidade própria, mas inserido num meio social onde tem vários papéis a desempenhar, pelo que o adolescente vai ter de integrar diversas auto-imagens: jovem, amigo, estudante, seguidor, líder, trabalhador, homem ou mulher numa -única imagem, e é a partir dela que escolhe uma carreira profissional e um estilo de vida.
Há uma recapitulação e redefinição dos elementos de identidade já adquiridos – esta é a chamada crise da adolescência. As fases anteriores deixam marcas que influenciarão a forma como se vivencia esta crise. O adolescente vai perceber-se numa perspetiva histórica. Se nos períodos anteriores conseguiram obter confiança básica, autonomia, iniciativa e diligência, os adolescentes constroem mais facilmente a sua identidade. Se pelo contrário, manifestam dificuldades em saber o que são, o que querem, que opções fazer e que papel desempenhar, vivem situações difíceis de confusão e indecisão.
É esta a idade que, na vertente positiva, o adolescente vai adquirir uma identidade pessoal e psicossocial, isto é, entende a sua singularidade, o seu papel no mundo. O versus negativo refere os aspetos de confusão de quem ainda não se encontrou a si próprio, não sabe o que quer e tem dificuldade em fazer opções.
As virtudes básicas que resultam desta crise são a fidelidade (lealdade para com si próprio) e a devoção.


6º Estádio – Intimidade vs Isolamento - ocorre entre os 18/ 20 e os 30/35 anos, aproximadamente.

A tarefa essencial deste estádio é o estabelecimento de relações íntimas (amorosas, e de amizade) duráveis com outras pessoas. Nesta fase, o jovem adulto já está preparado para estabelecer laços sociais caracterizados pelo bem-estar, amizade, partilha e confiança.
A intimidade requer que o sentimento de identidade pessoal facilite o relacionamento com outrem numa base de compromissos, alteração de hábitos e, mesmo, de aceitação de sacrifícios.
Na vertente positiva, o jovem adulto, com uma identidade assumida, poderá criar relação de intimidade com os outros.
A vertente negativa é o isolamento, pela parte dos que não conseguem estabelecer compromissos nem troca de afetos com intimidade nas relações privilegiadas. As dificuldades em estabelecer relacionamentos íntimos contribuem para que as pessoas se fechem em si mesmas e permaneçam no isolamento.
As virtudes básicas desta crise são o amor e a filiação (querer sentir-se querido).


7º Estádio – Generatividade vs Estagnação - ocorre entre os 30/ 35 - 60 anos, aproximadamente.

Este estádio é caracterizado pela necessidade de orientar a geração seguinte, em investir na sociedade em que se está inserido. É uma fase de afirmação pessoal no mundo do trabalho e da família. A generatividade (produtividade e criatividade) é a fase de afirmação pessoal e de desenvolvimento das potencialidades do ego, nomeadamente no mundo do trabalho e de interesse pelos outros. Há a possibilidade do sujeito ser criativo e produtivo em várias áreas. Existe a preocupação com as gerações vindouras; produção de ideais; obras de arte; participação política e cultural; educação e criação dos filhos. De facto, a pessoa sente-se madura para transmitir mensagens às gerações seguintes e ter filhos é, frequentemente, um desejo que se insere nesta relação com o mundo.
A vertente positiva é o sentimento de que se tem coisas interessantes a passar às gerações vindouras.
A vertente negativa é a centração nos seus interesses próprios e superficiais. Leva o indivíduo à estagnação nos compromissos sociais, à falta de relações exteriores, à preocupação exclusiva com o seu bem estar, posse de bens materiais e egoísmo.
As virtudes básicas que resultam desta crise são o cuidado, ajuda aos outros e a produção.


8º Estádio – Integridade vs Desespero - ocorre a partir dos 60 anos e é favorável uma integração e compreensão do passado vivido.

Esta fase coincide com a entrada na reforma, em que a pessoa se empenha em refletir, fazendo um balanço da sua vida.
A vertente positiva é a integridade: balanço positivo do seu percurso vital, mesmo que nem todos os sonhos e desejos se tenham realizado e esta satisfação prepara para aceitar a idade e as suas consequências.
A vertente negativa é o desespero: sentimento nutrido por aqueles que considerem a sua vida mal sucedida, pouco produtiva e realizadora, que lamentem as oportunidades perdidas e sentem ser já demasiado tarde para se reconciliarem consigo mesmo e corrigir os erros anteriores. Advém quando se renega a vida, mas se sabe que já não se pode recomeçar uma nova existência. Quando se renega a vida, se sente fracassado pela falta de poderes físicos, sociais e cognitivos, este estádio é mal ultrapassado.
As virtudes básicas que resultam desta crise são a sabedoria e a renúncia.



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