Os
estádios de desenvolvimento
Erik Erikson |
Os
primeiros quatro estádios decorrem no período de bebé e da infância, e os
últimos três durante a idade adulta e a velhice. A formação da identidade
inicia-se nos primeiros quatro estádios, e o sentido desta negociado na
adolescência evolui e influencia os últimos três estádios.
Cada estádio contribui para a formação da personalidade total
(princípio epigenético), sendo por isso todos importantes mesmo depois de se os
atravessar. Como cada criança tem um ritmo cronológico específico, não se deve
atribuir uma duração exata a cada estádio.
Em
cada estádio existem duas alternativas: quando o estádio evolutivo é
satisfatoriamente alcançado, o produto será uma personalidade saudável; quando
não é atingido, o resultado será uma personalidade emocionalmente imatura ou
desajustada.
Ou
seja, a resolução positiva de uma crise leva o indivíduo a dominar mais
eficientemente o ambiente que o rodeia, a funcionar de modo mais consistente e
seguro e a ser capaz de se compreender melhor a si próprio e aos outros. Estas
crises psicológicas permitem assim ao indivíduo a aquisição de sentimentos,
como confiança em si próprio, autonomia, iniciativa ou, ao invés, falta de
confiança, sentimentos de inferioridade e de culpabilidade.
Portanto, segundo Erikson a tarefa fundamental é a construção da
identidade pessoal.
1º Estádio – Confiança vs Desconfiança - ocorre aproximadamente
durante o primeiro ano de vida (0 - 18 meses).
Durante este período, o relacionamento com a mãe é da maior
importância. A criança adquire ou não uma segurança e confiança em relação a si
próprio e em relação ao mundo que a rodeia, através da relação que tem com a
mãe.
-Se a mãe não lhe der amor e não responde às suas necessidades, a
criança pode desenvolver medos, receios, sentimentos de desconfiança que
poderão vir a reflectir-se nas relações futuras. Se a relação é de segurança,
se a mãe alimenta bem o filho, se o aconchega e acarinha, brinca e fala
ternamente com ele, se a criança recebe amor e as suas necessidades são
satisfeitas, desenvolve o sentimento de que o ambiente é agradável e seguro,
criando uma atitude básica de confiança e face ao mundo. Posteriormente, vai
ter melhor capacidade de adaptação às situações futuras, às pessoas e aos
papéis socialmente requeridos, ganhando assim confiança.
2º Estádio – Autonomia vs Vergonha e dúvida – ocorre aproximadamente
entre os 18 meses e os 3 anos).
É caracterizado por uma contradição entre a vontade própria (os
impulsos) e as normas e regras sociais que a criança tem que começar a
integrar. É altura de explorar o mundo e o seu corpo. Nesta fase, as crianças
sentem ainda necessidade de proteção, mas simultaneamente, gostam de
experimentar. Por isso, sentem-se bem sempre que podem exercitar as suas
capacidades motoras: correr, puxar, empurrar, segurar, largar são atividades
que treinam e procuram desenvolver.
O meio deve estimular a criança a fazer as coisas de forma autónoma,
não sendo alvo de extrema rigidez, que deixará a criança com sentimentos de
vergonha.
Se os pais encorajarem a
criança a exercitar estas habilidades, ela desenvolve o controlo dos seus
músculos, o que contribui para o domínio do seu próprio corpo e do ambiente que
a rodeia. Desta forma, a criança ganha autonomia.
No entanto, se a criança for impedida de usar as suas capacidades ou
se lhe é exigido que use essas capacidades precocemente, a criança desenvolve
sentimentos negativos, como a vergonha e a dúvida.
As virtudes básicas que resultam desta crise são a força de vontade
e o autocontrolo.
3º Estádio – Iniciativa vs Culpa – ocorre aproximadamente entre os 3 e
6 anos.
É o prolongamento da fase
anterior, mas de forma mais amadurecida: a criança já deve ter capacidade de
distinguir entre o que pode fazer e o que não pode fazer.
O desejo de experimentar
mantém-se e amplia-se com a aquisição de novas capacidades intelectuais, como o
pensamento e a linguagem, que usa como outras formas de explorar a realidade.
Com elas toma iniciativas, idealiza façanhas, realiza tarefas e exibe-se.
Este estádio marca a possibilidade de tomar iniciativas sem que se
adquira o sentimento de culpa: a criança experimenta diferentes papéis nas
brincadeiras em grupo, imita os adultos, tem consciência de ser “outro” que não
“os outros”, de individualidade. Neste estádio, a criança tem uma preocupação
com a aceitabilidade dos seus comportamentos, desenvolve capacidades motoras,
de linguagem, pensamento, imaginação e curiosidade.
As virtudes básicas que resultam desta crise são a tenacidade,
o propósito e a direção.
4º Estádio – Indústria vs Inferioridade - decorre na idade escolar,
antes da adolescência (6 - 12 anos).
Erikson utiliza a palavra indústria no sentido de produtividade, de
desenvolvimento, de competência. A partir de estudos antropológicos, conclui
que, nesta fase, em várias culturas, se fazem importantes aprendizagens sociais.
A criança franqueia o universo da escola, onde se espera que faça
grandes aprendizagens, a nível académico e social. Sonha com o sucesso,
desenvolvendo esquemas cognitivos para se tornar excelente nas tarefas
desempenhadas. Percebe-se então como pessoa trabalhadora, capaz de produzir,
sente-se competente.
Neste estádio, a resolução positiva dos anteriores tem especial
relevância: sem confiança, autonomia e iniciativa, a criança não poderá
afirmar-se nem sentir-se capaz. O versus negativo é o sentimento de
inferioridade e de inadequação que lhe advém de não se sentir segura nas suas
capacidades ou de não se sentir reconhecida nem segura no seu papel no grupo
social a que pertence.
As virtudes básicas que resultam desta crise são a competência/ capacidade
e o método.
5º Estádio – Identidade vs Confusão de identidade - marca o período da
adolescência (12 - 18/ 20 anos).
É neste estádio que se adquire uma identidade psicossocial: o
adolescente precisa de entender o seu papel no mundo e tem consciência da sua
singularidade. Nesta idade, o adolescente apercebe-se da sua singularidade como
pessoa, adquirindo a noção de que é um ser único, com identidade própria, mas
inserido num meio social onde tem vários papéis a desempenhar, pelo que o
adolescente vai ter de integrar diversas auto-imagens: jovem, amigo, estudante,
seguidor, líder, trabalhador, homem ou mulher numa -única imagem, e é a partir
dela que escolhe uma carreira profissional e um estilo de vida.
Há uma recapitulação e redefinição dos elementos de identidade já
adquiridos – esta é a chamada crise da adolescência. As fases anteriores deixam
marcas que influenciarão a forma como se vivencia esta crise. O adolescente vai
perceber-se numa perspetiva histórica. Se nos períodos anteriores conseguiram
obter confiança básica, autonomia, iniciativa e diligência, os adolescentes constroem
mais facilmente a sua identidade. Se pelo contrário, manifestam dificuldades em
saber o que são, o que querem, que opções fazer e que papel desempenhar, vivem
situações difíceis de confusão e indecisão.
É esta a idade que, na vertente positiva, o adolescente vai adquirir
uma identidade pessoal e psicossocial, isto é, entende a sua singularidade, o
seu papel no mundo. O versus negativo refere os aspetos de confusão de quem
ainda não se encontrou a si próprio, não sabe o que quer e tem dificuldade em
fazer opções.
As virtudes básicas que resultam desta crise são a fidelidade (lealdade
para com si próprio) e a devoção.
6º Estádio – Intimidade vs Isolamento - ocorre entre os 18/ 20 e os
30/35 anos, aproximadamente.
A tarefa essencial deste
estádio é o estabelecimento de relações íntimas (amorosas, e de amizade)
duráveis com outras pessoas. Nesta fase, o jovem adulto já está preparado para
estabelecer laços sociais caracterizados pelo bem-estar, amizade, partilha e
confiança.
A intimidade requer que o
sentimento de identidade pessoal facilite o relacionamento com outrem numa base
de compromissos, alteração de hábitos e, mesmo, de aceitação de sacrifícios.
Na vertente positiva, o jovem
adulto, com uma identidade assumida, poderá criar relação de intimidade com os
outros.
A vertente negativa é o isolamento, pela parte dos que não conseguem
estabelecer compromissos nem troca de afetos com intimidade nas relações
privilegiadas. As dificuldades em estabelecer relacionamentos íntimos
contribuem para que as pessoas se fechem em si mesmas e permaneçam no
isolamento.
As virtudes básicas desta crise são o amor e a filiação (querer
sentir-se querido).
7º Estádio – Generatividade vs Estagnação - ocorre entre os 30/ 35 -
60 anos, aproximadamente.
Este estádio é caracterizado
pela necessidade de orientar a geração seguinte, em investir na sociedade em
que se está inserido. É uma fase de afirmação pessoal no mundo do trabalho e da
família. A generatividade (produtividade
e criatividade) é a fase de afirmação pessoal e de desenvolvimento das
potencialidades do ego, nomeadamente no mundo do trabalho e de interesse pelos
outros. Há a possibilidade do sujeito ser criativo e produtivo em várias áreas.
Existe a preocupação com as gerações vindouras; produção de ideais; obras de
arte; participação política e cultural; educação e criação dos filhos. De
facto, a pessoa sente-se madura para transmitir mensagens às gerações seguintes
e ter filhos é, frequentemente, um desejo que se insere nesta relação com o
mundo.
A vertente positiva é o
sentimento de que se tem coisas interessantes a passar às gerações vindouras.
A vertente negativa é a centração
nos seus interesses próprios e superficiais. Leva o indivíduo à estagnação nos
compromissos sociais, à falta de relações exteriores, à preocupação exclusiva
com o seu bem estar, posse de bens materiais e egoísmo.
As virtudes básicas que
resultam desta crise são o cuidado, ajuda aos outros e a produção.
8º Estádio – Integridade vs
Desespero - ocorre a partir dos 60 anos e é favorável uma integração e
compreensão do passado vivido.
Esta fase coincide com a
entrada na reforma, em que a pessoa se empenha em refletir, fazendo um balanço
da sua vida.
A vertente positiva é a
integridade: balanço positivo do seu percurso vital, mesmo que nem todos os
sonhos e desejos se tenham realizado e esta satisfação prepara para aceitar a
idade e as suas consequências.
A vertente negativa é o
desespero: sentimento nutrido por aqueles que considerem a sua vida mal
sucedida, pouco produtiva e realizadora, que lamentem as oportunidades perdidas
e sentem ser já demasiado tarde para se reconciliarem consigo mesmo e corrigir
os erros anteriores. Advém quando se renega a vida, mas se sabe que já não se
pode recomeçar uma nova existência. Quando se renega a vida, se sente
fracassado pela falta de poderes físicos, sociais e cognitivos, este estádio é
mal ultrapassado.
As virtudes básicas que
resultam desta crise são a sabedoria e a renúncia.
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