Como se sabe, as pessoas são muito
variadas, pois diferem no tamanho, na religião, no sexo, na idade, na
inteligência e na educação. Diferem ainda quanto às características sociais,
económicas e morais. Estas diferenças levaram a uma controvérsia: Hereditariedade
vs Meio. Será a individualidade o resultado de características biológicas ou
herdadas (hereditárias) ou é influenciada pelo meio ambiente onde vivem?
Esta controvérsia tem ocupado, através
dos anos, lugar de relevância no contexto geral da psicologia do
desenvolvimento. Inicialmente, o problema foi estudado mais do ponto de vista
filosófico, salientando-se, de um lado, teorias nativistas, como a de Rousseau,
que advogava a existência de ideias inatas, e, de outro lado, as teorias
baseadas no empirismo de Locke, segundo o qual todo conhecimento da realidade
objetiva resulta da experiência, através dos órgãos sensoriais, dando, assim,
mais ênfase aos fatores do meio.
Henry Goddard |
Um
dos maiores defensores da hereditariedade foi Henry H. Goddard que, em 1912,
publicou um artigo sobre a família Kallikak (nome fictício). Martin Kallikak,
soldado de guerra da Secessão americana, foi responsável pelo desenvolvimento
de duas linhagens diferentes da família. Teve filhos de duas mulheres, uma era
da alta sociedade e a outra era uma empregada de uma taberna. Do casamento
surgiram descendentes que alcançaram grande prestígio (médicos, advogados,
reitores, etc.). Com a amante teve um filho ilegítimo, mais tarde conhecido
como o “Velho Horror”. Este foi pai de 10 filhos. Goddard investigou este lado
mau e só encontrou o mais baixo da condição humana: ladrões de cavalos,
prostitutas, alcoólicos. No entanto, Goddard foi criticado porque não se
preocupou com aspetos como: diferenças de meio-ambiente entre os dois ramos:
deu uma explicação hereditária.
Charles Davenport |
Da
mesma forma, Charles Davenport (1866-1944) defendia que os genes herdados dos
nossos pais são responsáveis não só pela nossa inteligência, mas também pela
motivação. Para cada traço, físico ou psicológico, haveria um gene (ex. a preguiça
era herdada através de genes dominantes e ambição por genes recessivos).
Já para John Broadus Watson (1878-1958), defensor do meio
ambiente, a criança não é mais do que um pedaço de barro que é moldado e
trabalhado pelo meio ambiente em que ela se insere. Watson achava que um bebé
podia ser moldado, através do uso do processo de condicionamento (descoberto
pelo fisiólogo russo Ivan Pavlov), de modo a vir a ser qualquer tipo de adulto
(trapezista, advogado, criminoso). Se um cão podia ser condicionado, também um
bebé o pode ser.
A partir daqui escreveu uma obra (1913) acerca da sua experiência
com um bebé de nove meses que ficou conhecido como o caso do bebé Albert.
Watson queria testar a ideia da origem
do medo: se era inato ou aprendido como uma resposta condicionada. Para tanto,
o ‘Pequeno Albert’ era exposto a uma variedade de situações durante dois meses
sem qualquer tipo de condicionamento.
A experiência começou quando Albert foi colocado num colchão no
meio do quarto. Um rato branco de laboratório era colocado próximo dele e o
bebé brincava livremente com o animal. Toda vez que Albert tocava o rato,
Watson fazia um barulho alto ao bater numa barra de aço com um martelo. Albert
chorava e mostrava medo quando ouvia o som. Após diversas repetições desse com
associado ao toque do rato, Albert ficava muito nervoso quando o rato era
mostrado, pois havia associado o animal ao barulho alto de tal forma que a
simples aparição do rato produzia a resposta emocional do medo do som produzido
por Watson.
Nas sessões seguintes da experiência, os investigadores
descobriram que o menino não chorava somente devido à aparição do rato, mas
também devido à aparição de outros animais, como coelhos, cães e macacos que
antes não lhe assustavam. A conclusão do estudo até então foi que o
condicionamento de animais elaborado por Pavlov é eficiente também para
condicionar seres-humanos.
Sem comentários:
Enviar um comentário